quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Órbita

Órbita, é disso que preciso
De hora certa e lugar
Afeto, não mais me importa
E em desamor só vejo soma
Das lembranças de muita paixão

Preciso de órbita
No meu relógio, no meu espelho
Vou em busca de um cólera
Forte o bastante
E tão imensamente cego, surdo
(desprendido de valores tão inúteis)
Pra na órbita de meu tempo
Poder adentrar

Desencarno-me em vão
fujo de emoção
e remeto-me a ela
por ser meu único leitor

Na minha inquietude, enxergo-me
(Flutuando na atividade atmosférica
De uma solidão triste)
Somente quieto
E tão somente

De imediato,
Vinte e muitos
Nem de longe “sem horário nem regra”

Muito sofrida vida minha,
Que ostento em meu jovem olhar
Dê-me uma órbita pra entrar

Pois é impressionante
Como o sentido
Pode ter tantos sentidos diferentes

Vieira Hartmann

sábado, 13 de dezembro de 2008

Cacos

Como caco de vidro
Corta minha carne
A dor indescritível
E contida, nunca arde
E não provoca alardes
Que seriamos nós?
Se fossemos só gritos
só suor, só metades
juntando, somando
o tempo todo?
todo o tempo sem impasse
sem pausa,
sem qualquer descarte
não descartamos
pois somos fracos
somos menos um
divididos em dois
disfarçando insignificâncias
somos cacos no chão
que jamais cataremos
pela vergonha de não nos amarmos

Rodrigo Hellmuth

Ninguém

ninguém vê, ninguém ouve o: -ninguém me ama
e tal agonia que agora
já bem transformou-se em chama
que queima o corpo descrente da vida
que já entregou a alma
o que virá amanhã é não sei
o que virá depois é talvez
não há mais sim nem não
abre-se um leque de escolhas
sem favorita opção
não há variáveis remotas
não há poesia nem prosa
ninguém vê, ninguém ouve, ninguém se importa

Rodrigo Hellmuth

Janelas

Pra fora dessa parede
Além
Bem além da janela do quarto
Milhões de pensamentos
Cartilhas de bom comportamento
Opções
Visões
Fora de cada parede
Além de todas as janelas

Rodrigo Hellmuth

Exílio


Onde a voz é quieta
Noite onde
Cada dama é plena
Lá por onde andam
Luxúria e calma
De mãos dadas
Onde respira-se
Cada centímetro cúbico
Com a certeza de não ser ar
Lá desando
Reencontro
Com quem já não sou
Lá desabo e levanto
Elegante e rápido
Ascendo
Como a pena que voa
Na mais leve brisa
Depois de brutalmente arrancada
Lá esqueço
E me lembro
Por que por muito por lá ando
Pois lá cá estou
Lá, não cá

Rodrigo Hellmuth

Por teu sorriso e um copo d’água

Por teu sorriso
E um copo d’água
Faço quase qualquer coisa
(Quase)
Faço-lhe versos
Imersos em profunda frieza
Como se fosse mero espectador
Faço-lhe carinhos
Mordo a carne suculenta
E não me delicio com seu sabor
Só com a textura me satisfaço
Mergulho profundo no raso
Cavo pedras
Quase qualquer coisa
Lhe dou metade de mim
ou até mais
quando sinto sede
não sei bem do que sou capaz
não me dou por inteiro
nem deixo de sorrir
mas por seu sorriso
e um copo d’água
quase

Vieira Hartmann

Confusão

Sou confuso
Sou íntegro porém noturno
Da escrivaninha
Sou o bagunceiro incansável
Na escrivaninha
Sou o causador de caos
Um caôzeiro indomável
E por vezes entôo fardos
Paro
Canso
Olho
Volto
Fico
Caio na mesma rotina
E desligo por pura mania
de solidão
ou de pretensão
prevejo atos lúbricos
amigos do passado
prefiro atos mudos
sou confuso
solitário
mas não nasci
com certeza não nasci
pra ser feito de otário

Rodrigo Hellmuth