segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Novo Ano

Mal começa o ano
tantas coisas por terminar.
Nem cheiro de novo tem!
Ano novo,velhas datas,
datas que me esperam
como noivos no altar
esperam sua noiva:
tronco erguido,
uma certeza disfarçada de esperança,
uma esperança disfarçada de certeza,
e um véu tão pesado.
Não sei se é esse peso que carrego
ou se é algo que o futuro me guarda.
Certo mesmo é não esperar.

Vieira Hartmann

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Oriento-me

Oriento-me por estrelas apagadas,
extintas orientam minhas mãos,
minhas palavras e meus apelos
impensados por vezes.
Com um tom desorientado
guio como cego no fim da tarde,
sobresaindo sobre aqueles que
insistem em tudo ver.
Ouvidos por surdos
discursam mudos
sobre a vida que acaba,
enxergando cegos
seu belo céu estrelado.

E eu rio:
ontem mesmo outra estrela apagou.

Rodrigo Hellmuth

Longínqua Infância

trago à memória
todos os efeitos
dos feitos matutos
de minha infância
dos pinéis das esquinas
das carambolas
degustadas quase
nos topos de suas árvores
lembro
lembro do pão na padaria
e do troco que virava
polenguinhos e sonhos
ou nos sonhos ficavam
quando faltava no estoque
tiro da memória nada
nem as cavadas para a búlica
nem as embaixadas frustradas
as vezes o oceano de minhas lembranças
traz com a maré o que eu menos espero
da voz de alguém odiado
aos vultos que ficam
no lugar dos rostos adorados
como a música da areia
(que lembro só porque ouvi semana passada)
algumas coisas até voltam
outras estarão sempre enterradas
lembro, mas não volto
me adianto
aprendi na minha infância que
quem pensa que o tempo volta
anda sempre atrasado

Vieira Hartmann

Dissabor

com um copo na mão
olho pra janela.
Na janela, não sei mais
se o que vejo
é seu liquido escorrido,
cansado de manter-se inerte,
ou se são somente pingos,
restos de um céu
que continua a se esconder.
E olha que a chuva passou faz tempo.
Engraçado,
só no último gole d'água
costumo sentir seu desgosto.

Vieira Hartmann

Poemas para meus poemas

Nasço,
nasço sem data
sem segregar cheiro de onde.

Levanto,
sem o olhar malvisto de deboche
e super bem-humorado.

Ando,
guio com a mão destra distendida
e erguida para o apreço.

Corro,
sem fugir de segmentos
e sem perseguir nostalgia.

Caio,
deliciando o saboroso gosto de perda
e alardeando toda a felicidade do sofrer.

Durmo,
e quando durmo,
durmo bem
mas volto,
volto quando fico:
de mim renasço.

Rodrigo Hellmuth

Inspiração Má

Luminosidade que vem do sol
reflete na lua espelhada no mar
que me ilumina, ao olhar o oceano de mágoas
que é a vida que fui encarnar.

Então me levanto e assovio esse pranto,
jogo pra fora verdades notórias
que disfarço num canto falhando
ao esquivar-me de dar respostas.

Pois das sobras da minha ruína,
a poeira profusa de meu desmanchar
de certo no fundo é o que te fascina,
vadia sadista, inspiração má.

Vieira Hartmann

Sonhos

Trafego entre os mesmos,
os mesmos que eu
e os mesmos de sempre.

Dizem que ando desligado,
não tenho visto ninguém.

Ando pelas ruas sonhando,
sonhos que minha insônia faz calar
e durmo no momento errado,
no ônibus que escrevia poesia
ou na sala
que insistem em ler-me histórias de ninar.

Depois leio em casa,
depois de trafegar entre os mesmos.
Aqueles que sopram frases no meu ouvido
e os mesmos que gritam
o que não se deve escutar,
transformam em sinfonias
vulgaridades e bordões.

Batem no ferro, tocam o sinal
agradecem ao motorista
e chegam em minha casa.

Desgraçados!
só se calarão amanhã,
quando eu voltar a sonhar.

Vieira Hartmann